quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Peter Singer: O Filósofo e o Pregador

Recentemente visitei a feira do livro em Peniche, no entanto sem intenções de comprar nada. Nela passei os primeiros 10 minutos a olhar para os livros que me poderiam interessar, assim como o preço que neles estava marcado. Felizmente, apesar de terem desconto, este não era maior do que aquele que tenho na fnac com o cartão, pelo que não compensava realmente comprar nenhum nesta feira.

O problema destas feiras é que vamos olhando e olhando até que o nosso olhar acaba por ficar fixo nalgum livro. Neste caso, no Escritos sobre uma vida Ética de Peter Singer. Estava a um preço bastante bom, era um extremo desperdício deixá-lo ali exposto ao pó e assim o acabei por comprar.

Bastou ler alguma páginas para perceber que tinha acertado em cheio na compra. Era exactamente o tipo de livro com que me identifico. Deste modo, deixo aqui as razões que levaram a esta identificação misturadas com algumas notas retiradas do capítulo Especialistas em moral.

O meio onde cresci inserido (contextualização)...
Sempre vivi num meio rural, tendo sido educado segundo os costumes do mesmo. Lembro-me de a minha mãe me obrigar a ir à missa todos os Domingos, dia em que vestia a melhor roupa que tinha e o fio de ouro que me tinham oferecido quando me baptizei. Tal como a missa, também era costume ir à catequese - uma espécie de aulas sobre Deus, segundo a religião Católica, que eram dadas na Igreja.

Recordo-me de querer ficar a dormir e a minha mãe acordar-me para me despachar, ou chegaria atrasado à missa. Um atraso que me valeria ficar cerca de uma hora em pé a assistir o sermão, pois os assentos já estariam todos ocupados. Na altura, talvez por ser mais jovem, nunca pensei muito sobre o facto de haver tantas pessoas dispostas a ouvir o que o padre dizia. Não se tratava apenas de rezar.

Pessoalmente, devo confessar que distraia-me mais vezes do que aquelas que ficava atento. No entanto, na catequese apenas me permitia a uma coisa, a estar focado na mensagem que me estava a ser transmitida pelo(a) catequista. Aprendi bastantes coisas, muitas delas boas, como não roubar ou levantar falsos testemunhos, se havia más, pelo menos naquela altura, nunca pensei nelas. Talvez porque o próprio meio onde estava inserido ignorava que estas houvessem e assim me educaram.

Cresci e, consequentemente, amadureci. Hoje sou uma pessoa nova e coloco em questão coisas que antes não colocava em questão, nomeadamente as que me foram pregadas na Igreja. É verdade que há coisas boas que me foram transmitidas, no entanto há também outras que considero erradas, mas que me foram pregadas na cabeça. Coisas sem qualquer fundamento, que nunca poderão vir a ser consideradas certas num Mundo onde apenas Deus é o centro.

Foi este motivo a razão pelo qual este livro me chamou a atenção. Ele aborda a diferença entre um pregador e um filósofo moral.

O Filósofo Moral e o Pregador...

Não faz parte da actividade profissional dos filósofos morais dizer às pessoas o que devem ou não devem fazer. [...] Um filósofo moral, enquanto tal, não tem qualquer informação especial acerca daquilo que é certo e daquilo que é errado que não esteja ao alcance do público em geral, nem tem qualquer razão para realizar aquelas funções exortativas que são desempenhadas tão adequadamente pelos padres, políticos e líderes de opinião [...]
C.D.Broad, Ethics and the history of philosophy

Afirmações como estas são comuns, os argumentos a seu favor nem tanto. Dizem-nos que o papel do filósofo moral não é igual ao do pregador. Porque não?
Peter Singer

Estas duas citações, ambas retiradas de Escritos sobre uma vida ética, vão ser a base de todo o artigo que vou escrever a partir daqui. A primeira alerta-nos para o facto de não há qualquer razão para um filósofo desempenhar as funções de um padre (pregador), pois ele não possui nenhuma característica privilegiada que este último não tenha. Posição que Peter Singer refuta ao longo do capítulo.

Ele diz que o homem moralmente bom apenas não precisaria de ser um homem reflexivo caso o código moral da nossa sociedade fosse perfeito e incontroverso. Apenas nesse caso, o Homem poderia limitar-se a viver em conformidade com o código sem que tivesse de reflectir sobre o mesmo.

No entanto, como a sociedade não tem normas perfeitas ou consensuais sobre várias questões de escolha múltipla, é dever do homem moralmente bom saber resolver esses conflitos, saber o que fazer. É aqui que o papel do conhecimento ganha importância. Saber o que fazer exige informação, é ela que nos vai permitir chegar à hipótese certa, ou pelo menos, a mais fundamentada.  

Só após se possuir todos os dados sobre estas questões, é que estas poderão ser avaliadas e associadas às perspectivas morais em que se acredita. Em que, consoante o método moral que se utilizar, este pode ter em foco escolher a acção que produz mais felicidade e menos sofrimento, por exemplo, havendo uma tentativa em nos colocarmos na posição daqueles que vão ser afectados pela acção.

Com isto, Singer defende que parece realmente haver uma especialidade em moral, em que o filósofo apresenta um papel de destaque, ao contrário do mencionado na primeira citação. Conclui-se assim, que realmente há uma característica que distingue um filósofo moral de um pregador, podendo esta ser resumida em apenas uma palavra - conhecimento.

Além disso, há ainda o facto de um filósofo ter competências acima da média do homem comum, nomeadamente no que toca à argumentação e à detecção de inferências inválidas. Se associarmos isso ao facto de o filósofo ter tempo para pensar e recolher informações sobre uma determinada questão, algo que o homem comum não tem (pois ele possui outra ocupação que não  lhe confere tanto tempo para reflectir), então acho que é bastante óbvio que este tem capacidades especiais bem diferentes daquelas que um pregador tem. Concedendo-lhe todo o direito de dizer às pessoas o que devem ou não fazer, com base nos juízos morais realizados após várias reflexões.

Pessoalmente, após estes últimos parágrafos gostava  que as pessoas considerassem e entendessem a credibilidade de um filósofo moral, porém tal não acontece completamente. O próprio Singer transmite-o quando se expressa sobre o ponto de vista de outros filósofos.

A ideia de Ryle é a de que conhecer a diferença entre o certo e o errado implica preocupar-nos com ela. Por isso, na verdade este não é realmente um caso de conhecimento. [...] Logo, segundo Ryle, o homem honesto não é «minimamente especialista em nada». 
Peter Singer

Tal como Peter Singer, concordo que a distinção entre certo e o errado exige, na maior parte das vezes, informações e reflexões que nos permitam escolher a melhor hipótese moral. Consequentemente, estou a concordar com ele, quando se interroga porque razão o papel de um filósofo moral não é o mesmo de um pregador.

No entanto, uma vez mais, nem todas as pessoas pensam da mesma maneira, nomeadamente quando as questões que são respondidas através do uso de informações vão contra aquilo que foi pregado às pessoas e que elas acreditam desde que nasceram.

São bons exemplos disso, alguns casos mencionados em A Desilusão de Deus de Richard Dawkins. Este aborda o facto de famílias, cuja religião é o islamismo, processarem professores por ensinar teorias evolucionistas aos seus filhos. Teorias essas que vão contra aquilo que estas pessoas acreditam e que lhes foi pregado - o criacionismo.

O mesmo acontece com o meio onde fui criado. Se, tal como disse, houve coisas boas que me foram transmitidas, muitas outras não foram tão boas, pois não possuem qualquer tipo de fundamentação. São baseadas no desconhecimento e, em muitos dos casos, discriminantes para alguns dos seres que habitam no nosso planeta, sejam eles humanos ou não humanos.

De facto, sem querer exagerar, mas apenas demonstrar a diferença entre alguém que faz juízos morais com e sem conhecimento, deixo aqui um comentário recolhido no livro sobre os pregadores. Tal como Singer menciona, os pregadores fizeram tão adequadamente o seu trabalho, que as pessoas que os vêm como "lideres morais da comunidade" acabaram por entender por "moralidade" como um sistema de proibição de certas formas de prazer. 

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Cousera: Pobreza Extrema - Os Números...

Se o último artigo serviu para informar o que era a pobreza extrema e como se poderia agir para lutar contra esta. Este, por sua vez, tem o intuito de fornecer alguns dados de como esta está distribuída pelo Mundo e como afecta as pessoas.

Tal como no último poste, toda a informação foi recolhida no curso How to Change the World da plataforma de e-learning Coursera

A Pobreza Extrema no Mundo em 2010:
- 12.5 % na Ásia leste e no Pacífico;
- <1 % na Europa e Ásia Central;
- 0.7 % na América Latina;
- 2.4 % no Médio Oriente e Norte de África;
- 31 % no Sul de África;
- 48.5 % na África Sub-sariana;

Outras Estatísticas:
- 2.5 mil milhões de pessoas não têm acesso a um bom sistema de saneamento;
- 1.1 mil milhões não possuem qualquer tipo de sistema sanitário, se não aquele a céu aberto;
- 1.8 mil milhões de pessoas morrem todos os anos devido a problemas de saúde relacionados com a diarreia;
- 90% das pessoas do tópico anterior têm menos de 5 anos de idade;
- 40 % daqueles que vivem em condições de pobreza extrema são analfabetos;

É possível retirar algumas conclusões a partir destas estatísticas. São elas que é em África que se situam as comunidades mais pobres do Mundo, cujos principais problemas que atravessam é a falta de saneamento. Tudo isto leva a que muitas pessoas morram, grande parte nos seus primeiros anos de vida, devido a doenças como a diarreia. 

Como se pode combater isto? Acho que a resposta é bastante óbvia. Educação! Esta é o pilar principal no combate à pobreza extrema. Tal como referido no artigo anterior, é importante eliminar as doenças para que as pessoas possam trabalhar. No entanto, mesmo que se consigam os recursos necessários, como medicamentos e vacinas, nada nos garante que as pessoas os vão realmente tomar. Por este motivo a educação é tão importante, ela tem a função de sensibilizar as pessoas a tratarem-se. Daí ser a grande impulsionadora do desenvolvimento de um país.

O problema principal não é a ausência de soluções adequadas e de baixo custo, mas a dificuldade de haver uma cooperação global para implementar essas soluções.

Os ubíquos 3 I's:
- Ignorância
- Ideologia
- Inércia

Para que comunidades que vivem em condições de extrema pobreza consigam desenvolver-se é preciso não esquecer estes 3 I's. Deve-se combater a ignorância com a educação, educando-se as pessoas para que possam mais tarde intervir e participar activamente nas decisões tomadas relacionadas com a comunidade onde estão inseridas. Ideologia - deve-se investigar e testar o que realmente vai ajudar uma determinada comunidade ou país a desenvolver-se. Cada país é único, o que funcionou num outro, pode não funcionar de igual modo neste. Para este grande problema - pobreza extrema - não existe apenas uma única resposta, em vez disso há um conjunto enorme de pequenas respostas, devendo-se estudar e prever quais serão as melhores. Inércia - nós podemos mudar o Mundo e o modo como as coisas funcionam, não devemos ficar parados. 

Conseguir coisas óbvias para as pessoas que vivem em condições de pobreza no Mundo tais como, vacinas, antibióticos, suplementos alimentares, sementes melhoradas, fertilizantes, estradas, canalização, livros, enfermeiras... estas são coisas óbvias.
Estas coisas não farão as pessoas pobres dependentes de esmolas, vão dar a elas uma chance de entrar no sistema económico.

Após esta citação, pode-se dizer que se quer-se ajudar países onde a pobreza extrema é abundante, então todo o tipo de ajuda que se pode oferecer tem como foco a criação de potencial para o desenvolvimento.

Nota: De mencionar que as citações abaixo, são uma tradução directa do inglês, pelo que podem não estar escritas de igual modo como estariam numa versão portuguesa do autor.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Coursera: Pobreza Extrema

Finalmente após um longo semestre tive algum tempo disponível para voltar a um dos meus sites de e-learning preferidos, o Coursera. Desta vez para fazer o curso Change the World, de onde trago algumas das informações abordadas no tema referente à segunda semana Pobreza Extrema (Extreme Poverty).

Desde os meus primeiros anos de escola que tive a disciplina de Educação Moral e Religiosa na escola, até ter concluído o 12.º ano. Vou-me abster de abordar a parte religiosa, ficando apenas pela parte moral, que confesso também nunca ter sentido uma grande conexão. Isto aconteceu não por não sentir uma grande ligação, mas porque tinha algumas dúvidas quanto à ajuda que dávamos, por exemplo, se era às pessoas certas. 

Se havia vezes, nos cabazes de natal, por exemplo, que tinha a certeza que aquelas famílias precisavam de ajuda, havia outras que tinha as minhas dúvidas. Não que essa família vivesse em óptimas condições, porque não vivia, mas sim porque estas condições estavam, em grande parte, a ser uma consequência do modo de vida que estas levavam. Pelo que se colocava a questão, será que estavam a ser ajudados da forma correcta?

Acho que a pobreza é um tema bastante delicado, razão pela qual quis fazer este curso no Coursera, para conhecer mais sobre o tema e saber  quando, como e onde podemos agir. Além disso, com a globalização e o fácil acesso à informação, é possível saber que uma grande parte do Mundo ainda vive em condições que são para nós impossíveis, pelo que acho que é, em parte, nosso dever ajudá-los a ter uma melhor qualidade de vida.

 Pobreza Extrema
É importante salientar que a pobreza extrema está fortemente relacionada com o problema da desigualdade, nomeadamente a existente entre o mundo desenvolvido e o mundo em desenvolvimento. Esta tem-se vindo a demonstrar um dos maiores problemas que tentam persistir actualmente no planeta, podendo ser vista como aquilo que impede o crescimento económico do mundo em potência. Uma vez que existe uma enorme quantidade de pessoas que são privadas de recursos e condições básicas como a falta de educação, de saúde, de água, entre muitas outras. A falta de acesso as estes bens faz com que estas sejam privadas de contribuir para o crescimento económico do Mundo.

A persistência da pobreza é também o roubo de potencial humano. Pobreza não é apenas a falta de dinheiro - é não ter a capacidade de se alcançar todo o potencial como um ser humano.
Amartya Sin (Economista,  prémio Nobel da Economia em 1988)

O que é a pobreza extrema?
1. Pobreza extrema é viver com menos de $1.25 por dia. (de acordo com o World Bank)

De acordo com esta definição estima-se que:
- 21% da população mundial é extremamente pobre;
- 75% vive no Sul da Ásia ou em África;
- 3/4 vive em zonas rurais, onde conseguir ter água limpa, um bom sistema sanitário, transportes e acessos aos mercados continua a ser um dos maiores desafios que nos são apresentados.

Para se ter uma ideia do que é viver com $1.25 por dia. Nos EUA, por exemplo, a linha de pobreza está por volta dos $17 por dia. O US Census Burenau define, para os EUA, a linha de pobreza extrema em $8,50 por dia. Valores muito acima daqueles definidos pelo World Bank.

$1,25 = 0,94€ (por dia)
1 mês (30 dias) = 28,20€

28,20€ seria o valor que um português teria por mês para sobreviver, caso se encontrasse numa situação de pobreza extrema nas mesmas condições da maioria das pessoas em África. Obviamente são países e continentes diferentes, logo as condições são também elas diferentes e consequentemente o limite que cada um estabelece para pobreza extrema. No entanto, acho que estes valores nos conseguem levar a reflectir e a imaginar as condições em que 21% da população mundial se encontra a viver. 

Algo que se mencionou no Coursera foi que, pobreza extrema não é apenas falta de dinheiro ou riqueza, é a impossibilidade de ter acesso aos mercados, de poder fazer transacções. Sendo este um dos pontos mais importantes que se deve ter em conta quando se pretende erradicar a pobreza extrema, deve-se criar condições para que as pessoas tenham acesso aos mercados. 

O que se  pode fazer?
Imaginemos que queríamos fazer algo para ajudar a solucionar este grande problema que é a pobreza extrema. Nomeadamente nos 3 países onde esta é mais comum e persistente, na China, na Índia e na Nigéria. O que deve ser feito? Ou como podemos agir?

Devo confessar que foram estas duas questões que me levaram a inscrever neste curso no Coursera. Em Portugal, os bancos alimentares e os cabazes de natal são bastante frequentes. No entanto, sempre me perguntei se serão realmente eficazes. Pessoalmente devo confessar que nunca me identifiquei muito com essas campanhas. Pelo que, neste curso foi debatido quais seriam os melhores modos de intervir junto dos países em desenvolvimento. Por exemplo, será que mandar comida ou dinheiro é uma solução eficaz para erradicar a extrema pobreza nesses países?

Foi-me possível apurar que, quando nos países extremamente pobres, normalmente existe uma ligação entre a pobreza extrema existente e o governo. Pelo que se é verdade que muitas instituições exteriores ao país podem fornecer uma boa estrutura para o desenvolvimento económico deste, também é que na grande parte das vezes os governos não têm os mesmos interesses que as pessoas, acabando por se meter no caminho entre as instituições e o povo.

Além disso, gera-se também o problema de que, quando se trata de ajuda monetária exterior, esta poderá ser usada servindo apenas os interesses do governo. Neste caso, ela está a ser usada como um incentivo à corrupção. Por este motivo, a ajuda deverá ser entregue a nível local, junto das comunidades. Caso esta seja entregue junto do governo, então deveriam surgir movimentos a partir do interior de cada país, onde se exigiria mais informações sobre o dinheiro que este recebeu e como foi ele usado

Existe ainda um outro factor a ter em conta (Aid at the Edge of Chaos de Ben Ramlingan), é ele o conhecimento local das áreas onde pretendemos intervir. É extremamente importante que este seja tomado em consideração, uma vez que as regras que funcionaram ao desenvolvimento do nosso país podem não funcionar da mesma maneira noutro país e corre-se o risco de destruir esse conhecimento. O sistema deve evoluir e poder seguir diferentes direcções em vez de ser totalmente alterado.

Com isto, respondendo à questão O que deve ser feito? ou O que poderiamos fazer?. Nós devemos facilitar o crescimento económico do país, com o objectivo de eliminar a pobreza extrema. Como pode ser isso feito? Nós podemos criar as condições para que as pessoas possam estar aptas para trabalhar. Isto é, podemos dar-lhes medicamentos para eliminar as doenças que impedem elas de trabalharem. Podemos dar-lhes comida para que possam, novamente, trabalhar e reduzir o risco de contraírem doenças. Podemos dar-lhes educação, que lhes permite ter uma participação mais activa junto da sociedade e criar um ciclo sustentável de partilha de informações. Por exemplo, certos comportamentos higiénicos que lhes permite reduzir o risco de contrair doenças como diarreia.

Assim, pretende-se que estas comunidades possam reservar algum dinheiro que possa ser posteriormente usado para fazer transacções no mercado, por outra palavras, quer-se criar as condições para que as pessoas tenham acesso aos mercados. O qual vai contribuir para o surgimento de uma classe média na sociedade.


sexta-feira, 2 de maio de 2014

Cinema: O Quinto Poder (The Fifth Estate)

Recentemente andava a vasculhar no youtube trailers de alguns filmes, pois há algum tempo que não via um bom filme ou, pelo menos um que me dissesse algo, foi aí que encontrei O Quinto Poder. Este é um filme americano de 2013, ele é baseado no livro Inside WikiLeaks: My Time with Julian Assange at the World's Most Dangerous Website de Daniel Domscheit-Berg.

Este filme mostra-nos como a WikiLeaks foi formada e desenvolvida, focando-se no seu fundador (Julian Assange) e no seu colega (Daniel Domscheit-Berg), até ao momento em que este último é despedido. Tal como mencionei, o filme baseia-se no livro que Daniel Domscheit-Berg escreveu, reflectindo toda a sua jornada durante o seu tempo de permanência na WikiLeaks.

No filme a WikiLeaks é apresentada como uma plataforma onde são publicadas/ divulgadas informações confidenciais, muitas das vezes, sobre corrupção, crimes e segredos escondidos do povo. Inicialmente é exposta a corrupção de um banco na Bélgica e, posteriormente, de diplomacias e actos militares executados pelos EUA (Estados Unidos da América). 

O objectivo inicial desta plataforma, transmitido no início do filme, é de proteger as fontes que expõem os dados comprovativos de corrupção ou crimes. Para tal, existe uma grande quantidade de dados falsos a serem descarregados ao mesmo tempo, com o objectivo de ser impossível interceptar a pessoa que descarregou a informação confidencial. 

De facto, é centrado nisto que o filme se desenvolve, terminando com a fundador da WikiLeaks a querer divulgar todo um conjunto de dados confidenciais sobre diplomacias e operações militares dos EUA sem que estes sofram qualquer tipo de filtragem. Isto é, iria divulgá-los sem eliminar as fontes dos mesmos. Também por ir contra essa divulgação, Daniel é despedido, pois este, juntamente com outros jornais, defendiam a filtragem e tratamento dos dados antes da divulgação dos mesmos.

Muito sucintamente, isto é o que acontece no filme, gosto da ideia que este transmite. Há muitas coisas a passarem-se pelo Mundo fora que nos são escondidas, devido à sua brutalidade e imoralidade. É nos passada esta ideia que vivemos num mundo moral, correcto e incorrupto, mas depois descobrimos que as pessoas no poder não olham a meios para atingir os fins, independentemente do número de vidas que tenham de eliminar, em que os interesses político-económicos são o topo da pirâmide. 

Fico com a ideia que, se amanhã estivermos no caminho de algum governo ou de alguém com uma enorme influência, somos apenas meros piões que podem ser facilmente eliminados, em "prol de um mundo melhor" diriam eles, no entanto ambos sabemos a verdade, que existe algum interesse por trás e nós somos descartáveis.

Gostei da ideia transmitida no final, numa das entrevistas efectuadas, que se queremos a verdade temos de ser nós a ir procurá-la, se a obtivermos por intermédio de alguém, então não será puramente verdade, uma vez que já foi influenciada pelo ponto de vista e parcialidade daquela pessoa.

É também mencionado porque razão chama-se o filme O Quinto Poder. É dito que algum tempo atrás os jornais britânicos não podiam publicar os debates parlamentares, até que alguns homens corajosos os imprimiram em panfletos e os distribuíram. Apesar de terem sido enforcados por isso, tal fez com que as pessoas exigissem ter acesso a esses debates e assim nasceu o Quarto Poder. Actualmente passou-se a mesma coisa, com a nova era da informação, mostrou-se que há uma grande quantidade de segredos não divulgados e que temos o direito de os pedir,  nasce assim O Quinto Poder.

No final do filme, são referidos alguns factos verídicos como, vários jornais terem publicado dados de relações diplomáticas dos EUA confidenciais, contudo tal só foi feito após a remoção de fontes vulneráveis que os mesmos pudessem conter. Em 2011, a WikiLeaks divulgou os 251 287 documentos por completo, apesar de os jornais se terem oposto.

Noam Chomsky: EUA e Imperialismo

Viver...
Já alguma vez se questionou sobre o verdadeiro significado de "viver", se não deve ter sentido, pelo menos, o que se sente quando alguém querido ou próximo a si  perdeu a vida. Talvez quando isso aconteceu tenha ficado em choque, ou mesmo entrado em colapso, trazendo-lhe sentimentos que não esperava sentir. O tempo passou, mas a dor não desapareceu, você é que se acostumou a ela.
1.ª conclusão: Quando perdemos alguém de quem gostamos, percebemos que essa pessoa tocou na nossa vida.

Vivemos num mundo constituído por milhões de pessoas e, como seres humanos, sentimos todos o mesmo - tristeza, alegria, ódio, amor, ciúmes, inveja (às vezes com mais e outras com menos intensidade). Por termos estes sentimentos em comum, era suposto que entendêssemos a dor dos outros quando alguém próximo a eles morre, mesmo que esse alguém nos seja desconhecido.
2.ª conclusão: Reconhecer a presença dos mesmos sentimentos nos outros, independentemente da etnia ou religião..

É por estas duas razões que condeno a Guerra, não se está apenas a matar pessoas, muitas das vezes meros civis, mas também porque se está a causar dor a muitas das pessoas e, uma delas poderá ser nós próprios. Tento dizer a mim mesmo que não deve ser fácil matar alguém, tirar a vida a alguém deve ser um peso que temos de carregar o resto da nossa vida, mas quando visualizo números que atingem as centenas de milhares de baixas, em determinadas épocas da história. Questiono-me até que ponto consigo realmente acreditar na existência de tal peso.

Direito à vida... é um direito que todos nós temos, independentemente de onde nascemos, é um direito universal, estabelecido a partir do momento em que deixamos o útero da nossa mãe. Negar-nos a ele é o maior crime que pode ser cometido, é um crime contra a espécie humana. É neste contexto que comecei a ler o livro Mudar o Mundo de Noam Chomsky. Pelo que deixo assim aqui algumas das notas que recolhi durante a minha leitura sobre actos de guerra cometidos no passado, no entanto, não muito distantes do presente. Foram estes dados que me levaram a fazer esta prévia reflexão.

EUA vs Vietname:

  • 1954 - Há um acordo de Paz entre os EUA e o Vietname, no entanto este é considerado um desastre pelo primeiro, o que leva a que recuem o acordo. Um pouco mais tarde, os EUA estabelecem um protetorado no Vietname do Sul, onde sabe terem sido cometidos inúmeros actos de tortura, brutalidade e assassínios;
  • 1960 - Passado 6 anos após o estabelecimento do protetorado, o governo do Vietname do Sul já tinha morto entre cerca de 70 mil a 80 mil pessoas. Devido a todo este clima de guerra, repressão e austeridade, houve uma rebelião interna, apesar de os Vietnamitas do Norte não o desejarem. Estes apenas queriam que ter tempo para conseguir desenvolver a sociedade.
  • 1961 - Houve a interferência do presente americano John F. Kennedy, que culminou na invasão militar no Vietname, no entanto a situação já se encontrava fora de controlo.
  • 1962 - Servindo-se de aviões do Vietname do Sul, Kennedy bombardeou este mesmo país. Autorizando ainda a utilização de um produto químico para destruir todas as colheitas, à medida que colocava pessoas de zonas rurais em campos de concentração, supostamente para as proteger.
  • 1963 - O Vietname do Sul estava em negociação com o Vietname do Norte com o objectivo de estabelecerem um acordo de paz. Com o conhecimento disto, a administração de Kennedy organizou um golpe de estado, em que estes dois irmãos, do Norte e do Sul, foram assassinados. Posteriormente, seguiu-se também o homicídio do Presidente Americano John F. Kennedy. De mencionar que, embora este tenha concordado com a proposta de saída do Vietname, tinha condição fazê-lo apenas quando saísse vitorioso.


EUA e o Imperialismo:
Na verdade, imperialismo é um termo interessante. Os Estados Unidos foram fundados como um império. George Washington escreveu em 1783 que a «extensão gradual dos nossos territórios irá de certo levar o selvagem, à semelhança do lobo, a retirar-se; ambos são animais de caça, ainda que difiram na forma».

Thomas Jefferson previu que as tribos «atrasadas» nas fronteiras «recairão na barbárie e na miséria, serão diminuídas pela guerra e pela carência e nós seremos obrigados a levá-las, com os animais da floresta, para as montanhas Stony».

Neste capítulo, Noam Chomsky aborda o facto de, após os EUA terem atingido os limites geográficos, isto é, a expansão no território nacional, esta não ficou por aí. Ele menciona que o tipo de colonialismo que este pratica é o pior dos tipos que existem - o colonialismo de ocupação. Neste, além de se ocupar o território indígena, também se livra da população nativa. (De mencionar que o conceito imperialismo evoluiu, pelo que pode não ser o termo mais correcto a utilizar actualmente.)

Em 1898, o ano da conquista de Cuba, os EUA executaram o ataque "libertar Cuba", no entanto o objectivo destes nunca foi que esta se tornasse independente. Contudo a sua actividade não se ficou por aqui. Também o Havai foi ocupado, depois de terem expulsado a população indígena de lá, ao qual se segue também as Filipinas, onde se estima que se tenha morto mais de 200 mil pessoas e se estabeleceu um sistema colonial. Actualmente, a única razão porque as Filipinas não possuem o crescimento económico do resto dos países asiáticos que a rodeia, é porque são um país isolado devido à sua ocupação pelos EUA.


quinta-feira, 17 de abril de 2014

Eric Hobsbawn: Globalização, Guerra & Paz

1 segundo... 1 minuto... foi o tempo que passou desde que cliquei em "escrever nova mensagem", exactamente o mesmo intervalo que demorou para que algumas das 7 mil milhões de pessoas que habitam o planeta Terra tomassem acções que ficarão registadas em inúmeros livros sobre a história da nossa espécie, como surgimos e como evoluímos até aos dias de hoje. 

Basta abrir um desses livros para que fiquemos deslumbrados com as histórias que vão desde a Grécia Antiga até aos Descobrimentos. A conclusão é apenas uma, aprendemos a adaptar-nos a ambientes que nos eram hostis, formámos civilizações enormes, levámos o conhecimento a outro patamar, desenvolvendo a tecnologia de nenhum modo antes visto,  tornámos-nos grandes o suficiente para termos um papel fundamental no Planeta Terra e sermos dignos de ter a nossa própria história.

No entanto, com todo este crescimento surgiram também novos valores e ideais. A moral e a ética nunca foram tão importantes como agora, afinal de contas tudo o que nos move é o que acreditamos ser como correcto, pelo que é com grande desdém que reconheço que sempre que abro um livro de história, encontro as páginas deste manchadas de sangue, como se ele tivesse sido escrito com o sangue de todas as pessoas que morreram em prol de um mundo melhor. Ou será isso apenas uma desculpa reles para justificar todos os crimes e atrocidades que foram cometidas? 

Somos agora uma civilização com um enorme peso sobre os acontecimentos que ocorrem por todo o Mundo, somos mais evoluídos que nunca. No entanto, parece que se não existir um conjunto de leis a dizer-nos como nos comportar a sociedade desmorona-se e, nessa altura, não seremos muito diferentes de todos os outros animais irracionais que habitam este mundo. Ainda assim, apesar de todas estas regras e do nosso código moral, continuam a haver casos em que a dominação sobre os outros fala mais alto e é possível ver o quanto "grandes" nos tornámos, o suficiente para que numa pequena fracção de momentos nos destruamos a nós e a todo o planeta, pintando a última página do livro do mesmo vermelho que circula nas nossas veias.

Foi neste contexto que comecei a ler o livro Globalização, Democracia e Terrorismo do Eric Hobsbawm, com a esperança de compreender um pouco o mundo e perceber porque determinados actos de violência e guerra continuam a ser cometidos nos dias de hoje. Pelo que aqui vão algumas informações e citações recolhidas durante a minha leitura.

A Globalização
Desde 1960 que o avanço em aceleração progressiva da globalização teve um profundo impacto político e cultural, sobretudo na actual forma dominante - um mercado livre, global e descontrolado. Para começar, a globalização do mercado livre gerou um crescimento repentino nas desigualdades, quer sociais, quer económicas, as quais se têm vindo a sentir não só dentro dos países, mas pelo mundo fora. Estas são a causa das principais tensões sociais e políticas do actual século.

Em segundo lugar, o impacto desta globalização é mais sentido pelo os que menos beneficiam dela, isto é, existe uma barreira a dividir aqueles que estão a salvo dos efeitos negativos desta e os que não estão. Por exemplo, é bastante corrente que empresários procurem mão-de-obra em países onde esta é mais barata, assim como um profissional de educação superior consiga um emprego em qualquer economia de lucros elevados.

Por último, o impacto político e cultural da globalização revela-se desproporcionalmente grande, onde a imigração constitui um enorme problema político em grande parte das economias desenvolvidas do ocidente.

Guerra e Paz no Sec.XX
Este foi o século mais mortífero de toda a história conhecida, com uma mortalidade de aproximadamente 187 milhões de pessoas, ligeiramente mais de 10% da população mundial em 1987. Praticamente, após 1914, este século é caracterizado por uma série de guerras ininterruptas.

Pode-se olhar para o período entre 1914 e 1945 como uma guerra de 30 anos, interrompida apenas por uma pausa nos anos 20, entre a retirada final dos japoneses e do extremo oriental da Rússia, em 1922, e o início do ataque japonês à Manchúria em 1931. Este período é ainda caracterizado pelo termino da 2.ª Guerra Mundial, ao qual se segue a Guerra Fria, que dura cerca de 40 anos. Com isto, pode-se concluir, pelas palavras do autor do livro - O Mundo como um todo não esteve em paz desde 1914 e não o está agora.

Com base nos acontecimentos do século XX, pode-se dividir este em três períodos distintos:

  • Era 1: Guerra Mundial centrada na Alemanha (1914-45);
  • Era 2: Confronto entre as 2 Super Potências (1945-89);
  • Era 3: Começa no fim do sistema clássico do poder internacional;

Durante a era 1 e 2, as Guerras Civis e outros conflitos armados no interior de Estados foram obscurecidos pelas guerras entre estados. Após estes dois períodos as guerras interestaduais praticamente desapareceram da Europa, no  contam-se os casos de ocorrência de outros conflitos militares pelo resto do Mundo, alguns deles resultantes dos anteriores conflitos globais.

  • Na era 3, a guerra regressou ao sudeste da Europa, no entanto a possível de esta se alargar ao resto do continente era bastante improvável;
  • Na era 2, as guerras interestaduais mantiveram-se endémicas no Médio Oriente e no Sul da Ásia. Outras guerra de grandes proporções surgiram no Este e Sudeste da Ásia (Coreia e Indochina), resultantes do confronto global;
  • Também na era 2, a África Subsariana transformou-se numa arena de conflitos humanos onde, na era 3, era possível assistir a enormes cenas de carnificina e de sofrimento;
  • Na era 1, houve ainda a guerra civil em território russo, marcada pela Revolução de Outubro;
  • Também a América Latina foi vítima de grandes confrontos civis, depois de 1911 no México e, desde 1948, em vários países da América Central.

As Consequências da Guerra e da Globalização
Combatentes e não combatentes: Apesar de nas duas primeiras guerras mundiais terem sofrido quer combatentes, quer não combatentes, verificou-se que o fardo da guerra tem-se vindo a transferir das mãos das forças armadas para as dos civis. Se durante a primeira Guerra Mundial apenas 5% daqueles que morreram eram civis, então na segunda Guerra Mundial esse número aumentou para 66%. Actualmente,  pressupõe-se que cerca de 90% dos afectados pela Guerra actualmente sejam civis.

O facto de as operações militares serem conduzidas por pequenos grupos de tropas regulares e irregulares que fazem uso de alta tecnologia, pode ser apontado como uma das causas para este acréscimo da afectação dos civis, uma vez que estes grupos estão por norma protegidos contra a ocorrência de "casualidades".

Tem-se verificado ainda que o sofrimento causado durante o período de guerra não é proporcional à escala do confronto. Por exemplo, a guerra de apenas duas semanas entre a Índia e o Paquistão pela independência de Bangladesh, em 1971, produziu cerca de 10 milhões de refugiados, um número bastante superior ao alegado durante a Guerra Fria.

O efeito da globalização: As consequências da guerra não está confinada apenas a áreas pobres e remotas. Devido à globalização e à crescente dependência mundial de um fluxo constante e ininterrupto de comunicações, serviços, entregas e fornecimentos, os efeitos da guerra na vida civil e no mundo são fortemente ampliados.

Distinção entre Guerra e Paz
Actualmente tanto a definição de guerra, como a linha que divide esta de paz estão cada vez mais ténues. Começando pela primeira, a separação entre conflitos dentro e fora de estados tornou-se confusa, pelo facto de o século XX ter sido marcado não apenas por um século de guerras, mas também de revoluções e desintegrações de impérios. Além disso, houve uma  mudança na atitude dos estados uns em relação aos outros. Após a Revolução Russa, a intervenção por parte de estados em assuntos de outro estado, cujos procedimentos desaprovassem, passou a ser uma prática comum.

Quanto à segunda, a distinção entre guerra e paz tornou-se obscura, tal como é mencionado no livro, a 2.ª Guerra Mundial não começou com declarações de guerra nem acabou com tratados de paz. O período seguinte a esta foi tão difícil de classificar entre guerra e paz ao ponto de lhe terem nomeado de Guerra Fria.

A absoluta obscuridade da situação desde a Guerra Fria é ilustrada pelo actual estado das coisas no Médio Oriente. Antes da Guerra do Iraque, nenhum dos dois termos, «guerra» e «paz», poderia descrever correctamente a situação no Iraque desde o término formal da Guerra do Golfo - o país continuava a ser bombardeado quase diariamente por forças estrangeiras.

Toda esta situação complicou-se com o uso do termo «guerra» na retórica pública, por exemplo "guerra ao desemprego" ou "guerra contra a Máfia". A utilização nestas expressões do termo "guerra" é bastante diferente daquele que é usado para se referir a grandes operações militares, confundindo-se ainda as acções que estão subjacentes a ele. Enquanto num caso, este está relacionado com as acções de forças armadas, no outro caso está associado à acção da polícia. Se um homicídio cometido por um soldado durante o confronto não é um crime, o mesmo não acontece se este ocorrer dentro de um estado.

O Desafio da Globalização
A globalização avançou em quase todos os campos, excepto um, o político e militar. Dos cerca de 200 estados que existem, onde os Estados Unidos ocupam uma posição de realce, não há nenhum que consiga estabelecer um controlo duradouro sobre os outros. Isto é, não há nenhuma super potência que consiga compensar a falta de autoridade global, principalmente devido à falta de acordos e convenções em relação ao desarmamento, suficientemente fortes para serem aceites pelos outros estados. Mesmo que se estabeleçam instituições tribunais internacionais, as suas decisões nunca serão necessariamente aceites enquanto houver estados poderosos em posição de ignorá-las. 

Desde a Guerra Fria que se tem improvisado a gestão de guerra e de paz, pelo que em muitos dos casos os conflitos têm cessado apenas graças à intervenção de uma armada exterior. No entanto, os resultados têm sido insatisfatórios, uma vez que tal obriga a manter as tropas a um custo extremamente elevado no local, sem falar que os países mais pobres podem criar ressentimentos contra este tipo de intervenção, em analogia com os tempos de colonização.

Era suposto que a guerra se diferenciasse claramente da paz - de um lado, um declaração de guerra; do outro, um tratado de paz.
Era suposto que as operações militares se distinguissem claramente entre combatentes - identificados como tal através de uniformes que usavam, ou por outros sinais indicando a sua pertença a uma forma armada organizada - e civis e não combatentes.
Era suposto que a guerra se desse entre combatentes. Os não combatentes deveriam, tanto quanto possível, ser protegidos em tempo de guerra.
Era suposto...


quinta-feira, 3 de abril de 2014

Coursera: Da Soberania à Declaração Universal dos Direitos Humanos

Alguns anos atrás, quando falava do que esperava da faculdade, da vida profissional, sempre me respondiam que era um sonhador. Agora, após alguns anos, penso que continuo bastante abstraído do que é a realidade, no entanto têm sido inevitáveis os meus encontros com ela, pelo que devo dizer que nem sempre me tem agradado o que vivo ou presencio.

Apesar de ter muitos "baldes de água fria" pela frente, os poucos com que me deparei, nomeadamente na faculdade, transmitiram-me que vivo num Mundo onde a preocupação com o indivíduo, com o que este sente, passou para segundo plano. Em vez disso, tudo é centrado na preparação e no talhamento do mesmo, para servir como ferramenta ao cru e inevitável mercado de trabalho que deveria mover um país que, apesar de pobre não hesita em rasgar, partir e deitar fora as cartas trunfos que provavelmente quebrariam este ciclo de derrotas.

Ultimamente, tenho sentido que somos tratados mais como uma peça do tabuleiro de um jogo de xadrez, onde somos meros piões constantemente julgados na praça pelo Bispo e assaltados na arena pelo Cavalo, onde no topo da plateia está o Rei, juntamente com a Rainha, a assistir a todo o espectáculo acenando e aplaudindo como se nada se passasse, onde a liberdade do peão para poder andar duas casas no início do jogo e o direito para dizer CHECKMATE foram eliminados das regras do jogo.

Por todas estas razões, aliadas a um pouco de ilusionismo e negação ao conformismo, comecei-me a interessar mais por aquilo a que chamamos direitos, mais concretamente direitos humanos. Nesse intuito, partilho aqui alguma da informação recolhida no curso  International Human Rights Law: Prospects and Challenges do Coursera.

Conceito de Estado de Soberania
Estado de Soberania é um conceito atribuído a cada estado e nação, este defende o princípio que cada país tem o direito de fazer o que quiser dentro das suas fronteiras. Nomeadamente, o controlo de território. O corolário desta visão de Soberania é o Princípio da Não Intervenção, onde se nega o direito às outras nações de interferirem no comportamento ou na conduta do que se passa dentro de outros países. Esta visão absoluta de Estado de Soberania afecta negativamente a protecção dos direitos do individuo e de grupos, de facto, limita-os. 

A Mudança...
Apesar de o conceito de estado de soberania negar a intervenção involuntária numa nação noutra, consegue-se identificar ao longo da história, nomeadamente antes da 2.ª Guerra Mundial, alguns tratados com o objectivo de proteger determinados grupos. Por exemplo, no século XVII houve acordos com o intuito de garantir a liberdade religiosa para protestantes e católicos. No século XIX, houve o acordo entre países para abolir a escravatura e o comércio de escravos e, estabeleceram-se alguns padrões mínimos para o tratamento de estrangeiros que residissem noutro país que não o seu. Todos estes exemplo têm em comum o facto de os direitos que os indivíduos de um país A usufruem, estão relacionados com os interesses de um outro pais B.

Esta visão de estado de soberania foi mudada após a 2.ª Guerra Mundial, principalmente devido às atrocidades cometidas pelo regime nazista no decorrer desta. A detenção e exterminação de um número elevado de grupos por este regime, como judeus, homossexuais e outras minorias, levou à conclusão que os pactos feitos não tinham sido suficientes para evitar estas crueldades. A difusão destes acontecimentos por outros países levou ao reconhecimento de que as leis e instituições criadas, com o objectivo de proteger os direitos do individuo e de grupos, eram insuficientes para prevenir os governos de abusarem discriminadamente ou usarem comportamentos violentos contra determinados grupos de indivíduos dentro das suas fronteiras. Mesmo que o país onde os abusos aconteciam possuíssem leis para protecção desses grupos, a constituição era facilmente suspendida, as instituições dissolvidas e as cortes influenciadas.

Foi neste desenrolar que se conclui-o que era necessária uma compreensão internacional dos direitos e de liberdade, que fosse comum a um grande número de países e de estados, e que estivesse protegida por leis e instituições internacionais. Tudo isto levou a uma revisão do conceito de soberania, que sofreu mudanças no direito e na liberdade que os países tinham dentro das suas fronteiras. Assim a ideia de os direitos se tornarem um princípio limitante do estado de soberania assentou em 2 ideais após a 2.ª Guerra Mundial: Universalização dos Direitos Humanos e a Internacionalização dos mesmos.

A Universalização refere-se ao facto de cada país dever ter um conjunto de leis que protejam os direitos humanos, enquanto a Internacionalização, por sua vez, tem o intuito de proteger esses direitos através de diplomacias, leis e instituições internacionais.

Tudo isto constituiu uma mudança no conceito abordado, tal fez com que fosse possível qualquer nação mencionar-se sobre a forma como certos indivíduos ou grupos são tratados no interior de outros país.

As Nações Unidas e a Declaração Universal dos Direitos Humanos
As Nações Unidas foram uma das instituições internacionais formadas com o objectivo de proteger os direitos humanos. Ela foi fundada no final da 2.ª Guerra Mundial na esteira da violência e das atrocidades decorridas neste conflito. Quando surgiu, muitos países, principalmente os menores, tentaram incluir uma lista de direitos num documento que viria ser aprovado em 1945, no entanto tal não foi feito, não só devido à pressão do tempo, mas também porque não havia um forte consenso global nos direitos que este deveria incluir. Pelo que, inicialmente este apenas incluía algumas referências gerais dos direitos humanos.

Pouco tempo após as Nações Unidas estarem estabelecidas, foi criada a Comissão das Nações Unidas para os Direitos Humanos, esta tinha o intuito de fazerem uma nova declaração internacional para os direitos humanos. Foi neste contexto que membros de diferentes nações fizeram o documento que se tornou a Declaração Universal para os Direitos Humanos, submetida à assembleia geral em 1948, onde foi adoptada sem qualquer voto contra, com 48 a favor e 8 abstenções.

Dos países que votaram a favor contam-se 14 países europeus e outros países do leste, 19 estados da América latina e 15 de África da Ásia. Actualmente, o número de países que adoptaram a declaração é muito superior, tal deve-se ao facto de antes muitos deles serem colónias, enquanto agora são países independentes.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos está organizada com um prefácio, que contém explicações e justificações para a realização do documento, tem ainda um conjunto de 30 artigos sobre os direitos civis, políticos, económicos, sociais e ainda culturais, assim como limitações e deveres.

Os temas centrais da declaração são dignidade, liberdade, igualdade e fraternidade.

terça-feira, 1 de abril de 2014

Al Gore: Principais Gases de Efeito de Estufa

O que sobe tem de descer, é o nome que Al Gore deu ao primeiro capítulo do seu livro A Nossa Escolha. Ele poderia estar a referir-se ao lançamento vertical de uma esfera por um ser humano, em que esta subiria até certa altura e, após alguns segundos, voltaria a cair devido à força da gravidade. Em vez disso, ele refere-se a uma descida que, não demora apenas alguns segundos, mas sim centenas ou mesmo milénios de anos a acontecer. 

Não deverá ser novidade dizer que Al Gore refere-se aos gases de efeito de estufa, os actuais responsáveis pelo aumento da temperatura média do nosso planeta. Este acréscimo tem tido um impacto negativo em muitos dos ecossistemas presentes na Terra, estando associado a outras crises ambientais.

A deterioração da nossa atmosfera devido a estes gases, está a mudar as condições ambientais a que, tanto nós humanos como todos os outros seres vivos, estamos habituados a viver. Tal apresenta assim um desafio à nossa sobrevivência, é necessário não só de deixar de emitir gases que possam deteriorar as condições actuais da atmosfera da Terra, como também temos de nos adaptar às mudanças que já se iniciaram e não podem ser desfeitas.

Para tal acontecer é necessário que estejamos cientes dos gases que estão a aumentar o efeito de estufa, do seu impacto e de que actividades estes provêm. Com o âmbito de partilhar essa informação, escrevo a seguir aqueles que são os 6 poluentes que o Al Gore considerou mais prejudiciais para o aquecimento global.

1.º Dióxido de Carbono (CO2)
Fonte:
  • A principal fonte de emissões de CO2 para a atmosfera provém da queima do carvão, petróleo e gás natural.
  • Cerca de 1/4 do CO2 emitido deve-se à utilização dos solos, associado à desflorestação e aos incêndios com os mesmos  fins. Tal acontece principalmente nos países ainda em desenvolvimento.
Outros factos:
  • Se este poluente deixasse de ser emitido para a atmosfera, pelas fontes descritas acima, já amanhã, 50% dele seria absorvido pelas plantas e pelos oceanos nos próximos 30 anos. O restante cairia mais lentamente, pelo menos 20% do que está a ser emitido hoje permanecerá na atmosfera por mais 1 000 anos.
  • Actualmente estamos a emitir 90 MTon de dióxido de carbono por dia.
2.º Metano (CH4)
Fonte:
  • A principal fonte de metano é a actividade agrícola, de onde se inclui todo o processo de criação de gado e  o cultivo do arroz.
  • O restante provém de operações de mineração de carvão, aterros e queima de combustíveis fósseis.
  • Cerca de 1/4 da emissão deste poluente para a atmosfera deve-se à sua fuga e evaporação durante o processamento, transporte e manipulação do uso do gás.
Outros factos:
  • Em 100 anos o metano é cerca de 20 vezes mais potente que o CO2 na sua capacidade para reter calor.
  • Por ser quimicamente activo, vai interagir com elementos químicos como o ozono, o vai contribuir para a sua redução a CO2 e vapor de água, num período de 10 a 12 anos.
  • Devido ao aumento das temperaturas do Planeta, certas regiões que rodeiam o Árctico começaram a descongelar aquilo a que se dá o nome de permafrost, ameaçando que muito do metano aí retido seja emitido para a atmosfera. 
3.º Negro de Carbono (também chamado de negro de fumo ou fuligem)
Fonte:
  • A principal é a queima de de biomassa, especialmente de florestas e savanas, incendiadas para se conseguir novos terrenos para a prática agrícola, em países e regiões como o Brasil, a Indonésia e África Central.
  • 20% deste poluente é emitido devido à queima de madeiras, ao estrume de vaca e resíduos agrícolas no sul de África. Acrescenta-se a esta lista ainda a China, devido à queima de carvão para aquecimento doméstico.
  • 1/3 da produção desta fuligem deve-se à queima de combustíveis fósseis, principalmente devido aos veículos a gasóleo, como camiões, que não estão equipados com dispositivos de retenção de emissões à saída do escape.
Outros dados e factos:
  • O negro de carbono faz absorção directa da luz solar que atinge a Terra. Este poluente forma nuvens castanhas que bloqueiam a luz, criando zonas de sombra que mascaram assim o aquecimento do planeta.
  • Apesar de ter um impacto considerável no aumento das temperaturas do planeta, é o poluente que menos perdura na atmosfera. De facto, basta que chova para que grande parte deste poluente "caia" com a chuva.
  • Na Síbéria e na Europa do Leste esta fuligem é levada pelos ventos para o Ártico, onde assenta sobre a neve. Tal faz com que ocorra um aumento do degelo, devido à diminuição do albedo, ou seja, da reflectividade da Terra.
  • Estima-se que este poluente seja responsável pela subido de 1 dos 2,5ºC que ocorreram no Ártico.
  • Nos países desenvolvidos o negro de carbono quase que não é produzido.
  • Este poluente está a ter um impacto considerável na China e na Índia devido à falta de chuvas. A ausência desta pode ir até aos 6 meses entre a época das monções. 
4.º Halocarbonos (onde se incluem os CFC - clorofluorcarbonos)
Fonte:
  • Estes gases foram descobertos pelo Homem que os usou em sistemas de refrigeração e aeróssois, inicialmente, usavam-se os CFC's, no entanto devido ao seu poder destruidor das moléculas que formavam a camada de ozono, foi substituído pelos Halocarbonos.
Outros factos:
  • Actualmente estes gases são regulados e tratados de acordo com o Tratados de 1987 (Protocolo de Montreal), adoptado devido ao problema da camada de ozono.
  • No geral, a quantidade de halocarbonos presente na atmosfera tem vindo a decrescer lentamente, no entanto muitas cientistas têm procurado controlar as emissões de hidrofluorcarbonos, que além de estarem a aumentar, contribuem fortemente para o aquecimento global.
  • O contínuo aquecimento da atmosfera (e arrefecimento da estratosfera) poderá recomeçar a destruição do ozono estratosférico, tornando-a fina ao ponto de se tornar de novo uma preocupação à vida humana.
  • Alguns destes gases mantém-se na atmosfera por milhares de ano. Por exemplo, o tetrafluoreto de carbono permanece nesta por cerca de 50 mil anos.
5.º Monóxido de Carbono e Compostos Volátiveis (COV)
Fonte:
  • A circulação de veículos movidos a derivados de combustíveis fósseis e a queima de biomassa são as principais fontes de emissão de monóxido de carbono. Os compostos voláteis, por sua vez, provêm de processos industriais, e tal como o anterior, da circulação de veículos que fazem uso de derivados do petróleo.
Outros factos:
  • Os COV levam à criação de ozono de baixo nível, que é um potente gás com efeito de estufa e um poluente prejudicial à saúde.
  • Não estavam obrigados pelo Protocolo de Quioto, no entanto são considerados gases de efeito de estufa, pois a sua interacção com o metano e o dióxido de carbono contribui para uma maior retenção de calor.
6.º Óxido de Azoto
Fonte:
  • Provém de práticas agrícolas que dependem de fertilizantes azotados, os quais aumentam grandemente as emissões naturais resultantes da decomposição bacteriana de azoto nos solos.
Outros factos:
  • Nos últimos 100 anos, devido ao NH3 (amoníaco) duplicou-se a quantidade de azoto disponível no ambiente.
  • A agricultura praticada à base de rotação de colheitas é agora uma actividade de colheitas contínuas à base de fertilizantes. Com consequência, muitos cursos de água, como rios e ribeiras estão a ser contaminados por azoto, o que sustenta o crescimento rápido e insustentável de manchas de algas (estratificação das águas).
Vapor de água:
  • A quantidade de calor que este retém depende da extensão a que os poluentes de aquecimento global fazem subir as temperaturas do ar e dos oceanos. 

sábado, 22 de março de 2014

Al Gore: A Nossa Casa está em Perigo

Foi por volta do 8.º ano que ouvi falar do aquecimento global pela primeira vez, infelizmente a professora abordou tudo tão superficialmente que mal tive tempo para consolidar a informação que tinha acabado de adquirir. Só alguns anos mais tarde, quando estava no meu 10.º ano, é que percebi a gravidade do assunto e das consequências que este podia ter no nosso planeta. A partir daí comecei a informar-me mais sobre o assunto e foi Al Gore um dos primeiros a  fornecer-me os fundamentos básicos sobre as causas e consequências do aquecimento global através do seu livro Uma Verdade Inconveniente.

Agora, depois de alguns anos de aquisição de informação, volto àquele que me transmitiu o básico do complexo problema com que nos deparamos. Partilho assim algumas notas que tenho recolhido no seu livro A Nossa Escolha.

Como português, tenho assistido a um inúmero número de notícias sobre o aumento do preço do barril de petróleo e, mais recentemente, sobre o aumento do preço da gasolina e do preço do gasóleo. Aquele combustível com que era possível abastecer o nosso carro por uns meros cêntimos por litro, transformou-se naquela que é a actual maior despesa de quem use este meio de transporte, com um custo de cerca de 1.5€ por litro.

Sei que existem muitos pontos de interrogação por detrás destes preços, como por exemplo, o facto de Portugal ser um dos países da União Europeia onde os derivados do petróleo são mais caros. Mas ignorando isso, apesar de tal ter uma enorme relevância, que outro motivo poderá haver para que este aumento de preços tenha atingido tais níveis, não apenas em Portugal, mas por todo o Mundo?

É aqui que entra Al Gore, ele no seu livro aborda aquilo a que muitos especialistas chamam de Pico do Petróleo. Tal como o carvão, o petróleo é um recurso não renovável, quer isto dizer que o tempo que a Natureza demora a repô-lo é muito inferior àquele que o Homem o tem estado a utilizar. Isto para explicar que, grande parte dos poços de petróleo já atingiram o seu pico, ou seja, o número de barris de petróleo que estes têm gerado num dado intervalo de tempo tem vindo a diminuir. 

O facto de a procura deste combustível continuar a aumentar, com o objectivo de satisfazer as necessidades energéticas mundiais, faz com que o seu preço, associado à diminuição da produção do mesmo tenda a aumentar, consequentemente, todos os seus derivados, como a gasolina e o gasóleo também o vão fazer.  

A Agência Internacional de Energia, na sua primeira análise de fundo aos oitocentos maiores campos petrolíferos, relatou no ano passado que a maioria dos maiores campos já ultrapassou o pico da taxa de produção, e que o declínio previsto nessa produção está agora a acelerar ao dobro da taxa prevista em 2007.

T.Boone Pickens, o altamente bem sucedido veterano do petróleo e do gás americano, declarou em Agosto passado que, na sua opinião, a produção de petróleo já atingiu, na verdade, o pico em 2006.  

O facto de a maioria de os campos de petróleo actualmente explorados estarem situados no médio oriente, onde a agitação militar é elevada, é uma das outras causas identificadas para a flutuação dos preços do petróleo. Face a todos estes factos, é de extrema importância substituir este combustível por outros mais duradouros e menos poluentes, uma vez que o uso deste tem gerado crises económicas pelo Mundo, crises de segurança e, por último e talvez a mais importante, a crise climática.

A queima de combustíveis fósseis, como o petróleo, são das principais causas para o aumento massivo do efeito de estufa que se tem vindo a registar. Embora parte dos países desenvolvidos estejam a reunir esforços no sentido de substituir estes por fontes de energia mais limpas, como as renováveis, o actual crescimento da China e da Índia, realizado em parte através da queima e do uso deste tipo de combustíveis, tem vindo a contribuir fortemente para a emissão de gases de efeito de estufa, como o dióxido de carbono, para a atmosfera. 

Apesar de tudo, a China, por exemplo, está prestes a tornar-se o maior país de produtor de energia eólica, através da construção de uma super rede de 800 kilovolt que ligará todas as suas partes.

Por último, Al Gore critica o facto de assuntos de elevada importância, como a crise climática, seja abordada e divulgada nos tablóides de forma pouco séria, onde é misturada constantemente com notícias de entretenimento e publicidade, minimizando a importância do aquecimento global e, de certo modo, ridicularizando-a. 

Vivemos agora numa cultura política parcialmente enlouquecida pela transformação do «fórum público» que emergiu na esteira da imprensa, e que nos trouxe os jornais, os livros, a literacia de massas, o «primado da razão», o igualitarismo e a democracia representativa.

O filósofo alemão Theodor Adorno descreveu em primeira mão esta transformação, num contexto muito diferente, há 58 anos: «A conversão de todas as questões de verdade em questões de poder... atacou o próprio âmago da distinção entre verdadeiro e falso.»
  
(Todas as citações em itálico foram transcritas do livro A Nossa Escolha do Al Gore)